AlainCVB e um urinol

Nada me parece melhor que dizer “Olá ao Mundo!” com este texto escrito em 2009, mas que continua a fazer todo o sentido para mim.


A minha primeira visão do que é arte: um urinol.

“Desde que Marcel Duchamp introduziu o urinol como uma obra de arte, em 1917, que não há limites para a imaginação. O que importa falar da minha capacidade financeira quando há a arte como a desse homem?” (Céu e Silva, 2009)

1.

Na nossa primeira aula, foi-nos perguntado: “Qual o vosso artista ou movimento preferido?”. E claro, as mais diversas respostas surgiram: DaVinci, Picasso, Miguel Ângelo, …. Eu referi que os meus conhecimentos não me permitem ter um preferido. É claro que eu sabia, sim sabia, o que era Arte! Arte como toda a gente sabe, é Mona Lisa, a Capela Sistina, a Divina Comédia, …, obras que nos deixam totalmente fascinados e admirados! Com total e absoluta surpresa, colhido totalmente de sobressalto, “Um urinol?” – pensei. Abri assim o meu espírito e iniciei a minha pesquisa. “r. mutt” – escrevi no meu browser. Desde esse dia iniciei uma viagem, a minha viagem na arte. Por detrás deste objecto está uma história que, para além de me surpreender, deixou-me tremendamente curioso e ávido por mais. O que me pareceu inicialmente um objecto sem sentido transformou-se numa mudança na minha visão do mundo. Além de descobrir que o urinol, afinal, chama-se “Fonte” e que Duchamp é o responsável pelo ready-made, tudo começou com a ideia de fazer uma exposição com o tema: “no jury, no prizes” e transformou-se no início de uma nova era na arte (e na minha cabeça). Ocorreu-me então que HAV é a percepção de uma maravilha global.

2.

Os locais onde a Arte se pode manifestar estão pré-definidos pela nossa cultura. Onde lhe é dado o estatuto de obra de Arte, ou seja, numa galeria ou num museu, sei que encontrarei obras de Arte, pois estão “rotuladas”. Mas e se estas se encontram ao ar livre? num “não lugar”? Será Arte ou arte? Na sequência das minhas aulas chego realmente à conclusão que não existe o que realmente pode ser definido como Arte, mas sim, artistas. Estes artistas “lutam” para se revelarem e transformarem a Arte em arte. No início dos tempos, surgiram (pré-historia) uns veados, seguido de umas pedras ao alto (Stonehenge), pirâmides, coliseus, a Mona Lisa, estátuas, formas cúbicas, urinóis, geometrias, tintas gotejantes, formas simples de difícil percepção, coca-colas verdes amontoadas, ilusões ópticas coloridas, sprays nas paredes, … Ufa! Muita arte fizeram estes artistas. Podemos chamar de arte a todas estas actividades? Penso que, desde que tenhamos em conta que a palavra pode significar diferentes épocas, lugares, movimentos, formas e coisas distintas, quando escrita com “a” minúsculo. Sim, pois como descobri nas minhas aulas, a Arte é um fantasma perdido a procura de um urinol!

Realmente ainda não encontro nenhum motivo que me leve a gostar mais de um quadro ou escultura do que outro. Sei que alguém pode gostar mais de uma paisagem porque lhe lembra a sua infância, gostar mais de um retrato, por causa de um amigo. Olhando para um quadro, este pode despertar mil e um sentimentos que têm influência naquilo que nos move ou não, prazer ou não. A todos nos atrai o belo, mas este é diferente em cada um de nós. Se deixar de lado tendências e modas, o meu leque de opções varia de dia para dia e molda-se a realidade que me rodeia. O gosto pela arte feita pelo homem vai crescendo dentro de mim, representa o que o artista sente e me quer transmitir, vejo características (in) temporais próprias de uma determinada era.

Também eu, ando à procura de um urinol!

Bibliografia

Céu e Silva, J. (30 de Agosto de 2009). Entrevista – Joe Berardo. Obtido em 29 de Novembro de 2009, de DN Portugal: http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1348107

Dias, H. (21 de Novembro de 2009). HISTÓRIA DAS ARTES VISUAIS * ESE * IPVC. Obtido em 21 de Novembro de 2009, de HISTÓRIA DAS ARTES VISUAIS: http://www.b-date.org/ha/img/fountain-r-mutt-1917-1964.jpg

  1. Martins, S., & H. Imbroisi, M. (30 de Dezembro de 2005). Linha do tempo. Obtido em 29 de Novembro de 2009, de História da arte: http://www.historiadaarte.com.br/linha_do_tempo.htm